quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Museu da Água - Será museu ou não?


Talvez este post, à primeira vista, pode não ter nada a haver como que aqui se pretende “discutir”, não obstante resolvi escreve-lo…
Foi anunciado esta semana que o Museu da Água de Coimbra, em funcionamento há dois anos, foi o único espaço museológico português nomeado pelo European Museum Forum (EMF) para o Prémio de Melhor Museu Europeu do Ano.
Este prémio anual do EMF, organização não governamental inglesa, que é atribuído desde 1977 para distinguir os museus que mais se salientam na sua criatividade e relacionamento com o público, será anunciado em Maio, na Turquia. Este galardão tem por objectivo premiar novos museus, com dois ou três anos de actividade, ou museus antigos que se apresentam totalmente renovados e que se tenham salientado pela capacidade inovadora de se relacionarem com a comunidade envolvente, de preservarem as memórias e de promoverem uma missão educacional junto dos mais novos.
Em 2008, o prémio do EMF foi atribuído ao Kumu Art Museum, na Estónia, que entrou na galeria de museus europeus contemplados com aquela distinção, onde se destacam o Museu Olímpico de Lausanne ou o Guggennheim de Bilbao.
Ora esta distinção fez-me sentir orgulho na minha cidade e no meu país. Porque se provou que mais uma vez que Portugal também sabe fazer coisas boas. Não obstante, este anúncio também suscitou algumas criticas, nomeadamente porque algumas pessoas considerarem que o Museu da água não é um museu.
Ora então vejamos, no Artigo 2.º, do Capítulo I da Lei-quadro dos Museus Portugueses (Lei nº 47/2004, de 19 de Agosto), a política museológica deve obedecer a alguns princípios, nomeadamente:
“b) Princípio da promoção da cidadania responsável, através da valorização da pessoa, para a qual os museus constituem instrumentos indispensáveis no domínio da fruição e criação cultural, estimulando o empenhamento de todos os cidadãos na sua salvaguarda, enriquecimento e divulgação;
c) Princípio de serviço público, através da afirmação dos museus como instituições abertas à sociedade;
d) Princípio da coordenação, através de medidas concertadas no âmbito da criação e qualificação de museus, de forma articulada com outras políticas culturais e com as políticas da educação, da ciência, do ordenamento do território, do ambiente e do turismo;
e) Princípio da transversalidade, através da utilização integrada de recursos nacionais, regionais e locais, de forma a corresponder e abranger a diversidade administrativa, geográfica e temática da realidade museológica portuguesa;
g) Princípio da supervisão, através da identificação e estímulo de processos que configurem boas práticas museológicas, de acções promotoras da qualificação e bom funcionamento dos museus e de medidas impeditivas da destruição, perda ou deterioração dos bens culturais neles incorporados;
h) Princípio de descentralização, através da valorização dos museus municipais e do respectivo papel no acesso à cultura, aumentando e diversificando a frequência e a participação dos públicos e promovendo a correcção de assimetrias neste domínio;”

No artigo 3.º, do mesmo capitulo Museu é definido como uma “instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional”. Esta instituição permite “garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objectivos científicos, educativos e lúdicos e Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.”
São ainda considerados museus todas as instituições, que “apresentem as características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu, ainda que o respectivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas, testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.”

No artigo 42.º, da mesma lei, um museu “desenvolve de forma sistemática programas de mediação cultural e actividades educativas que contribuam para o acesso ao património cultural e às manifestações culturais”, “promove a função educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente, a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos.”

O museu da água, tendo em conta todas as suas características, dedica-se ao Universo da água, um recurso, que não sendo nem arqueológico nem histórico, é talvez o nosso maior e melhor recurso que temos, promovendo por isso o Princípio da promoção da cidadania responsável e o Princípio de serviço público.
Por outro lado, sendo ele um espaço que guarda memórias, peças provenientes do serviço do abastecimento de água, desde ferramentas, canalizações, contadores, aparelhos, instrumentos vários, logo promove o principio da supervisão, pois permite que não se deteriorem os bens culturais neles incorporados.
Além disso, segundo o conceito de museu, também este museu garante um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valoriza-os através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objectivos científicos, educativos e lúdicos, através da realização de exposições, instalações artísticas, conferências, workshops e momentos musicais.
Por último, o museu da água contempla um acervo integre de bens de património cultural movél (a antiga estação elevatória, parque Manuel Braga), imóvel (passeios no rio a bordo de uma antiga e pitoresca barca serrana) ambiental (ensina a valorizar as questões ambientais e, em especial, o recurso água e paisagístico (toda a sua envolvência encerra no rio Mondego).
Posto tudo isto, será que ainda existam dúvidas de que o Museu da água é efectivamente um Museu? Será que existe gente tão céptica ao ponto de achar que este belo espaço não será também um museu?

Para quem dúvida faço um convite para visitar este espaço: Fica no parque Dr. Manuel Braga, em Coimbra e está aberto das 10h00 às 13h00 e das 14h00 até às 18h00, encerrando à Segunda-feira

Saudações Geográficas
Liliana Azevedo

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