O comentário, feito por este Geógrafo é a seguinte: “De facto estamos num país de arquitectos, engenheiros, advogados e pouco mais. O resto é paisagem… No caso concreto assistimos a engenheiros a elaborar cartografia temática sobre áreas de risco para o combate à criminalidade. Concluo agora que um engenheiro serve para todo e qualquer serviço. Ninguém sabe ao certo onde começam e acabam as suas competências. Entretanto, outras áreas académicas ficam esquecidas e não saem do
marasmo pois não lhes é dada qualquer oportunidade. Enfim, só neste país.
Alguém sabe o que é um geógrafo? Acho que a maioria nunca ouviu falar e a minoria pensa que é alguém que lecciona e sabe tudo sobre países e capitais.
Pois bem, o tipo de projecto atribuído ao LNEC?!!! encaixa na perfeição no quadro de competências de um geógrafo (recolha de informação de dados relativos a actividades criminosas, elementos demográficos, urbanísticos, GPS, (…). O projecto, realizado no âmbito do programa “Metrópoles seguras”, está mais relacionado com a Geografia do que com a engenharia Civil, não concordam?
Deveríamos pois aprender com outros países onde o Geógrafo tem um papel muito diferente daquele que lhe é atribuído pelo nosso país. São inúmeros os exemplos onde equipas que desenvolvem este tipo de projectos (baseados num sistema de informação geográfica) são coordenados e integram estes profissionais. (…)”
Eu acrescento, que no nosso país fazem-se projectos onde quase sempre só entram engenheiros e arquitectos, esquecendo-se sempre, ou quase sempre, que existem profissões com mais competência para exercer determinadas funções, nomeadamente em estudos de impacte ambiental, em estudo geomorfologicos, geológicos… e aqui não falo apenas do Geógrafo.
Assim sendo, e para aqueles que consideram que as funções dum Geógrafo se baseiam exclusivamente ao ensino, e também para aqueles que não fazem a mínima ideia do que é ser Geógrafo. E porque nós temos orgulho em sê-lo e porque para quem não sabe, a profissão de Geógrafo foi umas das primeiras a ser reconhecidas no país aqui vai a explicação:
Os geógrafos estudam fenómenos físicos e humanos às escalas local, nacional ou mundial. Estudam a sua distribuição no espaço e procuram identificar os factores explicativos e as consequências dessa distribuição. A resposta à primeira questão é essencialmente descritiva; o estudo das causas e das inter-relações que explicam os padrões geográficos envolve teoria e análise. A geografia procura também interpretar os significados dos territórios, considerando, para o efeito, as dimensões identitárias dos lugares.
Com as informações recolhidas nos seus estudos, e após a análise das inter-relações entre os diversos fenómenos, os geógrafos elaboram estudos integrados, relatórios e mapas que caracterizam o espaço e os diferentes fenómenos físicos e humanos, emitindo pareceres e recomendações que são de grande importância no apoio às decisões políticas em variados sectores da sociedade, contribuindo com o seu saber e capacidade de interpretação do espaço para o ordenamento do território e para o desenvolvimento territorial equilibrado. Os seus trabalhos são particularmente utilizados na elaboração de Planos Regionais de Ordenamento do Território, Planos Directores Municipais (planos de ordenamento do território municipal) e no planeamento urbanístico, assim como na formulação e avaliação de políticas territoriais (locais, urbanas e regionais) ou sectoriais com impacte espacial (ambiente, economia, cultura, sociais, …).
A avaliação das situações de perigo e risco e os contributos para o ordenamento biofísico envolvem o estudo de fenómenos físicos. Neste sentido, são desenvolvidos trabalhos relativos à geomorfologia, o tipo de solo, as condições climáticas e a vegetação natural de determinada área. Estudam a evolução das formas de relevo – montanhas, vales, planaltos, …– e individualizam unidades geomorfológicas no território. Realizam, igualmente, estudos hidrológicos, especialmente sobre o funcionamento dos hidrossistemas (bacias hidrográficas e aquíferos). Os geógrafos dedicam-se, também, ao estudo e classificação das associações vegetais características de uma região: registam o tipo de plantas predominantes nos diferentes estratos (herbáceo, arbustivo e arbóreo) e a extensão de território que ocupam, classificando as associações segundo as suas características biogeográficas, como por exemplo as florestas (mediterrânica, equatorial, tropical), ou os ecossistemas agrícolas.
Em relação às condições climáticas, os geógrafos analisam, entre outros parâmetros, a variação da precipitação, a amplitude térmica, a velocidade e direcção dos ventos e a influência das altas ou baixas pressões atmosféricas. De acordo com as informações obtidas, cabe-lhes classificar o clima de uma determinada área em estudo, obedecendo às tipologias estabelecidas, assim como as suas diferentes cambiantes). O estudo do clima urbano – variações da temperatura, dinâmica particular do vento – e a avaliação do conforto/desconforto humano e a qualidade de vida nas cidades constituem os principais domínios de integração do clima no planeamento urbano.
Na perspectiva da análise da ocupação humana do território, geógrafos estudam as dinâmicas natural e migratória da população, o tipo de povoamento, as dinâmicas da rede urbana (metropolização, urbanização difusa, policentrismo, …), as actividades económicas e a distribuição dos equipamentos e infra-estruturas. Igualmente relacionada com a ocupação do espaço está a análise das actividades económicas desenvolvidas pela população. Neste âmbito, os geógrafos registam, entre outros, o tipo de agricultura praticado (produtos cultivados, máquinas utilizadas, extensão de terreno cultivada, etc.), a indústria existente (produtos fabricados, localização das unidades fabris, factores de produção, etc.) e a presença do sector terciário (localização, diversidade das actividades, segmentação, mercados, etc.). Efectuam, ainda, estudos de programação dos equipamentos sociais, tais como os estabelecimentos de educação, saúde, culto e lazer, bem como a distribuição das infra-estruturas, designadamente vias de transporte, comunicação e logística.
Apesar das inter-relações entre fenómenos físicos e humanos, é normal estes profissionais optarem por trabalhar apenas numa destas áreas. Podem, inclusive, especializar-se num determinado tipo de estudos: económicos (dotação de recursos, especialização da base económica e dinâmicas de inovação), sociais e culturais (a coesão social, a etnicidade e as vivências e práticas culturais), políticos (relação do território com os fenómenos políticos locais, nacionais e internacionais), urbanos e de transportes (organização das cidades e das áreas metropolitanas), rurais (desenvolvimento local e capacidade institucional) e ambientais e paisagísticos (planeamento biofísico e defesa do património natural ou construído).
Para executarem o seu trabalho, os geógrafos recorrem com frequência a técnicas de análise estatística e às tecnologias de informação e comunicação. É o caso dos sistemas de informação geográfica, que permitem obter, armazenar, classificar, tratar e analisar informação espacialmente referenciada, essenciais para a identificação e explicação dos padrões espaciais e para a construção de modelos vocacionados para a intervenção no ordenamento do território. Como tal, são cada vez mais utilizadas as ferramentas computacionais na análise geográfica.
Além disso, para ser geógrafo é conveniente possuir, entre outras características, curiosidade científica, gosto pela observação e capacidade para interpretar os fenómenos naturais e humanos, facilidade em usar mapas e propensão para o trabalho de grupo. De resto, esta é uma profissão em que é raro o trabalho individual: dependendo do estudo em curso, assim se constituem equipas pluridisciplinares com arquitectos, paisagistas, economistas, sociólogos, urbanistas, engenheiros civis, geólogos, meteorologistas, etc.
Saudações Geográficas
Liliana Azevedo
Liliana Azevedo