quarta-feira, maio 31, 2006

Ministério do Ambiente aprova mais um novo campo de Golfe numa área protegida

A expansão das actividades turísticas têm reformulado o padrão de oferta em concordância com uma procura cada vez mais exigente. Os empreendimentos turísticos não se limitam a ter infra-estruturas para acomodação; existe uma panóplia de actividades de lazer combinadas com a valorização dos recursos naturais.
A prática do golfe começa a ter em Portugal, uma importância real e crescente, sobretudo na região do Algarve. Não obstante, tal como outro sector económico ocupa espaço, consome recursos e têm custos ambientais que podem ser considerados.
E para não variar, aí vem mais um novo campo de golfe.....
Apesar da Comissão de avaliação o reprovar, o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, deu luz verde ao "Empreendimento Lagoa da Vela Golf”, na Figueira da Foz, ao emitir uma Declaração de Impacte Ambiental favorável condicionada, sendo que, para a sua construção existirão alguns condicionalismos que terão de ser tidos em conta pelos promotores do empreendimento que prevê um campo de golfe de 9 buracos e 224 habitações, numa área de 100 hectares abrangida pela Directiva Europeia Habitats e classificada como Sítio da Rede Natura.
Se pensarmos apenas em aspectos economicistas, este empreendimento é bem capaz de trazer benefícios. Contudo, mais que os aspectos económicos importa salientar os inúmeros impactos ambientais que ele trará, e que negativamente, afectarão mais população do que aquela que vai usufruir deste novo espaço, que como se sabe é apenas uma pequenina minoria.
Quando muito se tem falado em gestão de recursos hídricos, nos cada vez mais episódios de seca em Portugal, na protecção e valorização da paisagem, como é possível que para ceder aos caprichos de meia dúzia de pessoas, se possa prejudicar milhares de outras, se possa destruir uma área tão rica ao nível paisagístico, espécies, como é que é possível que isto ainda aconteça?
Se pensarmos nos impactos que os campos de golfe têm, facilmente percebemos que num país como o nosso, a sua implementação não faz qualquer sentido.
Para além dos impactes directos na geologia e geomorfologia, associado às escavações e movimentação de terras, todos os trabalhos durante a fase de construção poderão potenciar a erosão hídrica, além da possível alteração do escoamento superficial.
Afecta igualmente, quer a quantidade, e mais grave que tudo, a qualidade da água, uma vez que as escorrências sub-superficiais apresentarão elevados níveis de contaminação química.
Já para não falar das implicações significativas que tal empreendimento terá na paisagem, que lembro é abrangida pela Directiva Europeia Habitats e Sítio da Rede Natura, de espécies que poderão, quase de certeza desaparecer, de implicações que trará nos ecossistemas, entre outros.
Poderão dizer que um campo de golfe, potenciará o turismo, mas lembro que este tipo de turismo, deverá ser sempre sustentável; cumprir critérios de sustentabilidade sociais, culturais, ecológicos e económicos; ter uma visão a longo prazo, ser sustentável economicamente e, acima de tudo, ecologicamente. Não pode, nem deve ter apenas em consideração os benefícios privados e económicos.
É necessário e urgente pensar de forma sustentada, agir de forma ponderada, consciencializarem-se de que o planeta terra, a paisagem é de todos e não apenas usufruto de alguns!

Saudações Geográficas
Liliana Azevedo

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Liliana. apenas uma pequena pergunta: se é uma Zona da Rede Natura 2000 como é que se consegue construir? e a União Europeia?.... está-me aqui a escapar alguma coisa?? Rui Guilherme